(Atualizada às 18h01)
A aposentada Maria Nerci, 71 anos, prestou depoimento nesta quarta-feira (16) e voltou a afirmar que matou sozinha a própria filha, a advogada Izadora Mourão em fevereiro do ano passado em Pedro II, interior do Piauí. Ela negou, por inúmeras vezes, a participação do filho no crime. O julgamento dos acusados teve início na manhã de hoje e está sendo realizado através da 2ª Vara da Comarca de Pedro II.
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Ela citou que deu vários golpes de faca em Izadora que estava deitada na cama. Maria Nerci relatou que não tinha preferência por nenhum filho, mas a relação com a filha não era fácil, principalmente depois que ela se separou. No dia do crime, segundo depoimento, a advogada dormiu no quarto do irmão, o jornalista João Paulo.
A idosa contou que que Izadora Mourão havia ameaçado ir ao banco para cancelar sua aposentadoria. "Ela começou a me chamar de velha miserável e cardíaca. Falou que iria tomar as providências para cancelar minha aposentadoria. Eu pedi pra ela não fazer isso e perguntei do que eu iria viver e a Izadora me respondeu que não sabia. Em seguida tomou o remédio e foi se deitar", lembrou.
Em depoimento, Nerci afirmou que o primeiro golpe que deu foi no pescoço, enquanto a filha estava na cama. Na sequência, a advogada, segundo a mãe, reagiu, pegou em seu braço, mas a aposentada continuou a esfaqueá-la até a morte.
"Ela não me chamava de mãe. Chegou em casa com olhos vermelhos e me pediu dinheiro para pagar umas contas, só que eu falei que só tinha o da aposentadoria e era usado para comprar as frutas e remédio do irmão dela. Eu me lembrei que como ela disse que vai me matar e vai judiar com todo mundo aqui, eu vou saber se ela está se mexendo ou dormindo. Ela tava dormindo em um sono pesado mesmo, com o lado do coração para cima. Eu tinha levado a faca disse que é hoje ou é nunca. Eu peguei e dei primeiro golpe e foi muito forte, acertei na veia que mata mesmo. Ela pegou no meu braço esquerdo e se virou; ela queria se levantar para pegar a faca", contou.
"Dei um golpe muito forte"
Maria Nerci explicou ainda que Izadora pegou em seu braço, mas ela sustentou e continuou com os golpes de faca. "Eu dei um golpe muito forte, saiu bastante sangue, fiquei golpeando porque ela vai tomar essa faca e vai matar todo mundo. Ela ficou lá emborcada, confesso. Tudo o que tinha de força eu botei para dar certo. Eu dei várias, com medo dela se levantar e tomar a faca e matar todo mundo. Era ela ou eu", disse.
A aposentada afirmou que matou a filha para se proteger. Ela citou que tinha medo de Izadora fazer algum mal para ela ou os irmãos. Nerci destacou ainda que não estava mais suportando a situação e que matou por defesa.
“Sei que é errado, mas diz que quem mata em sua livre defesa não é pecado. Ela estava muito má comigo, demais. Não quero que nenhuma mãe do mundo passe o que passei na minha vida. Eu não tava mais suportando, ia ter que sair daquela casa, não sabia o que fazer. Tem muita gente me julgando muito mal, mas eu não sou ruim não”, completou.
No depoimento, Maria Nerci desabafou que foi covarde ao não assumir que cometeu o crime. Na época ela inventou que uma sacoleira teria ido até a residência para cobrar Izadora de uma dívidas e que ela entrou na casa e matou a advogada. A versão foi dita para uma doméstica, amiga da idosa, que trabalhava na casa e depois para João Paulo.
Versão de idosa é questionada pela polícia e MP
A versão dita por Maria Nerci é questionada pela polícia. A perícia atestou que no dia do crime, o jornalista João Paulo executou e a mãe assistiu ao assassinato, pois a posição dos golpes de faca feitos em Izadora favorece o lançamento de sangue encontrado no vestido da mãe dela. A vítima sofreu 11 golpes de faca, a maioria no pescoço e uma no peito. Foram feitas perfurações de 4 a 9 centímetros, que de acordo com a polícia, seriam incompatíveis com a força da idosa.
Na época, o Ministério Público defendeu a tese de que o crime foi cometido por João Paulo e Maria Nerci, e que a motivação foi relacionado a uma herança de cerca de R$ 4 milhões, deixada pelo pai da advogada.
Relembre o caso
Izadora Mourão foi encontrada morta dentro do quarto do irmão em 13 de fevereiro de 2021. Segundo a polícia, a vítima foi atingida por nove golpes de faca. As investigações apontaram que o irmão, o jornalista João Paulo Mourão, após matar a advogada foi dormir no quarto da mãe.
Em 2021, a defesa sustentou que apenas a mãe teria participado do crime. No entanto, ambos foram pronunciados pelo crime de feminicídio. O crime teria sido motivado em uma disputa por herança.
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