(Atualizada às 23h28)
A aposentada Maria Nerci foi condenada a 19 anos e seis meses de prisão por matar a própria filha, a advogada Izadora Mourão com vários golpes de faca. O crime ocorreu em fevereiro de 2021 na cidade de Pedro II, região Norte do Piauí. A sentença foi lida pelo juiz por volta das 23h desta quarta-feira (16) após mais de 13h de julgamento.
O irmão de Izadora, o jornalista João Paulo, que havia sido indiciado por homicídio triplamente qualificado, foi absolvido pelos jurados por 4 votos a 3. Os membros do conselho de sentença entenderam que ele não teve participação no crime.
A sessão ocorreu na Vara Criminal de Pedro II e foi presidida pelo juiz Diego Ricardo Melo de Almeida, que manteve a prisão domiciliar de Maria Nerci.
Mais cedo, o irmão de Izadora Mourão, o jornalista João Paulo prestou depoimento e negou qualquer tipo de participação no crime. Ele relatou que a relação entre ele e a advogada era muito amistosa e que ela era sua 'melhor amiga'.
De acordo com o depoente, ele e sua irmã eram muito unidos, e que a morte de Izadora foi um choque. João Paulo afirmou que a irmã tinha liberdade de frequentar o quarto dele para dormir, e passar o tempo, local onde a advogada foi encontrada morta.
“A gente sempre foi muito unido, então ela tinha liberdade de dormir e deitar no meu quarto. Nesse dia ela foi dormir no meu quarto e eu dormi no quarto da minha mãe. Fui acordado pela minha mãe e a moça que trabalha lá em casa, falando que havia acontecido uma catástrofe que minha irmã tinha morrido. Foi muito doloroso, muito sofrimento, minha irmã era minha melhor amiga, meu braço direito, minha amiga pra todas as horas”, detalhou.
O jornalista relatou ainda que após a morte de seu pai e o divórcio de Izadora, a relação da irmã com a mãe ficou bastante conflituosa. João Paulo detalhou que as duas sempre brigavam e que ele mesmo já havia aconselhado a irmã a se cuidar melhor e buscar melhorar a relação com a família, pois segundo ele, a advogada estava ficando irritada com muita facilidade e descontava em casa, consequentemente discutia com Maria Nerci.
“Eu havia feito um bilhete para ela, aconselhando ela a cuidar melhor da vida dela. Falei isso em relação a saúde dela, ao bem estar dela. Pedi pra cuidar dos filhos dela porque depois da separação ela deixou a desejar no papel de mãe e também falei pra ela evitar confusão, porque estava sempre muito irritada, se irritando facilmente por qualquer coisa e com pessoas que ela nem conhecia. Depois do divórcio e da morte do nosso pai, minha irmã ficou em muito atrito com minha mãe, então qualquer coisa que acontecia elas se estressavam e brigavam, e como eu passava o dia fora de casa trabalhando, muitas vezes nem ficava sabendo”, comentou.
Idosa afirma que matou filha sozinha
A aposentada Maria Nerci, 71 anos, prestou depoimento na tarde desta quarta-feira (16) e voltou a afirmar que matou sozinha a própria filha, a advogada Izadora Mourão. Ela negou, por inúmeras vezes, a participação do filho no crime.
Ela citou que deu vários golpes de faca em Izadora que estava deitada na cama. Maria Nerci relatou que não tinha preferência por nenhum filho, mas a relação com a filha não era fácil, principalmente depois que ela se separou. No dia do crime, segundo depoimento, a advogada dormiu no quarto do irmão, o jornalista João Paulo.
Em depoimento, Nerci afirmou que o primeiro golpe que deu foi no pescoço, enquanto a filha estava na cama. Na sequência, a advogada, segundo a mãe, reagiu, pegou em seu braço, mas a aposentada continuou a esfaqueá-la até a morte.
"Ela não me chamava de mãe. Chegou em casa com olhos vermelhos e me pediu dinheiro para pagar umas contas, só que eu falei que só tinha o da aposentadoria e era usado para comprar as frutas e remédio do irmão dela. Eu me lembrei que como ela disse que vai me matar e vai judiar com todo mundo aqui, eu vou saber se ela está se mexendo ou dormindo. Ela tava dormindo em um sono pesado mesmo, com o lado do coração para cima. Eu tinha levado a faca disse que é hoje ou é nunca. Eu peguei e dei primeiro golpe e foi muito forte, acertei na veia que mata mesmo. Ela pegou no meu braço esquerdo e se virou; ela queria se levantar para pegar a faca", contou.
"Dei um golpe muito forte"
Maria Nerci explicou ainda que Izadora pegou em seu braço, mas ela sustentou e continuou com os golpes de faca. "Eu dei um golpe muito forte, saiu bastante sangue, fiquei golpeando porque ela vai tomar essa faca e vai matar todo mundo. Ela ficou lá emborcada, confesso. Tudo o que tinha de força eu botei para dar certo. Eu dei várias, com medo dela se levantar e tomar a faca e matar todo mundo. Era ela ou eu", disse.
Versão da idosa era questionada
A versão dita por Maria Nerci era questionada pela polícia. A perícia atestou que no dia do crime, o jornalista João Paulo executou e a mãe assistiu ao assassinato, pois a posição dos golpes de faca feitos em Izadora favorece o lançamento de sangue encontrado no vestido da mãe dela.
A vítima sofreu 11 golpes de faca, a maioria no pescoço e uma no peito. Foram feitas perfurações de 4 a 9 centímetros, que de acordo com a polícia, seriam incompatíveis com a força da idosa.
Na época, o Ministério Público defendeu a tese de que o crime foi cometido por João Paulo e Maria Nerci, e que a motivação foi relacionado a uma herança de cerca de R$ 4 milhões, deixada pelo pai da advogada.
Relembre o caso
Izadora Mourão foi encontrada morta dentro do quarto do irmão em 13 de fevereiro de 2021. Segundo a polícia, a vítima foi atingida por nove golpes de faca. As investigações apontaram que o irmão, o jornalista João Paulo Mourão, após matar a advogada foi dormir no quarto da mãe.
Em 2021, a defesa sustentou que apenas a mãe teria participado do crime. No entanto, ambos foram pronunciados pelo crime de feminicídio. O crime teria sido motivado em uma disputa por herança.
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