Estudantes ocupam reitoria da UFPI em protesto contra assassinato de Janaína Bezerra

Aos gritos de “justiça”, jovens afirmam que aguardam diálogo direto com o reitor

(Atualizada às 12h56)

Estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) ocuparam a reitoria da instituição nesta terça-feira (31), em protesto pelo assassinato da estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, estuprada dentro da instituição no último sábado (28) após calourada. O principal suspeito do crime está preso.

Aos gritos de “justiça”, estudantes e militantes afirmaram que aguardam diálogo direto com o reitor em exercício, Viriato Campelo. Ele teria prometido conversar com a categoria depois do caso e, segundo alunos, isso não aconteceu até o momento.

  

Estudantes ocupam reitoria da UFPI em protesto contra assassinato de Janaína Bezerra
Pedro Melo

   

A sala de reunião dos reitores foi ocupada e alunos se sentaram nas cadeiras dos líderes da UFPI. Na manifestação, eles cobraram apoio da instituição para a família de Janaína Bezerra. Os pais da jovem são simples e estão precisando de doações.

Mais de 100 alunos estão no espaço da reitoria e sala de reunião e se revezam em um microfone cobrando demandas como: segurança, medidas de enfrentamento contra violência na instituição e a expulsão do suspeito do crime. Policiais da Força Tática do 5º Batalhão da Polícia Militar estão no local.


Segundo o grupo, a ocupação acontece por tempo indeterminado. Uma assembleia está sendo realizada na sala dos reitores com as reivindicações dos estudantes, que destacaram, por inúmeras vezes, não recorrer à violência, mas exigem justiça por Janaína Bezerra.

  

Aos gritos de “justiça”, jovens afirmam que aguardam diálogo direto com o reitor
Divulgação

   

Uma estudante identificada apenas como Geovana, do 1º período, relatou à TV Antena 10 que os pais dos alunos estão preocupados com a falta de segurança na UFPI. A jovem relatou ainda que sua mãe pediu para ela deixar a universidade com medo dela não voltar para casa, principalmente depois do caso que ocorreu com Janaína que foi para uma calourada e foi estuprada e morta dentro da instituição. Os alunos pedem segurança com urgência.

"Culparam a gente, calourada é um momento para gente se divertir, brincar, mas também a gente consegue um lucro extra para fazer um projeto novo, porque a verba disponibilizada pra gente é extremamente baixa. Alunos foram assediados antes e o que fizeram foi abafar e não liberaram câmeras. Minha mãe pediu para eu desistir do curso, antes de eu entrar ela disse que o maior sonho dela era ver uma filha dela entrando em uma federal, se formando. Hoje em dia ela prefere que eu não estude em um lugar em que eu possa não chegar em casa um dia, eu possa estar morta", desabafou.

UFPI abre sindicância para definir punição de mestrando

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou que formou uma comissão de sindicância para apurar as condutas de Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, suspeito de estuprar e matar a estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, de 22 anos, no último sábado (28), após uma calourada. Ele segue preso desde o dia do ocorrido. 

  

Thiago Mayson é suspeito de estuprar e matar Janaína Bezerra
Reprodução

   

O reitor Viriato Campelo relatou à TV Antena 10 que a sindicância irá apurar as atitudes do suspeito para além da questão criminal, independente dos resultados da investigação policial e do processo. Entre as sanções direcionadas a Thiago está o cancelamento da sua matrícula, mesmo que ele venha a ser inocentado. O prazo é de 30 dias.

A comissão se reunir para deliberar também sobre o fato do estudante estar bebendo dentro do campus, o que é proibido. A UFPI informou que Thiago Mayson tinha a chave da sala de estudo onde o estupro teria acontecido porque os alunos do mestrado, doutorado e iniciação científica de Matemática têm uma sala de estudo coletivo. A chave era compartilhada com outras 13 pessoas.

  

Janaína era estudante de Jornalismo na UFPI
Reprodução

   

No dia do crime, um segurança da universidade flagrou Thiago com a blusa manchada de sangue e carregando a vítima desacordada em um corredor. Ao funcionário, o estudante relatou que a amiga tinha passado mal e estava procurando por socorro.

"Como pode o amigo de alguém estar passando mal e ele não chamar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)?", questionou o delegado Francisco Costa Baretta, diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), responsável pela investigação, em entrevista ao R7.


Os seguranças e as amigas, que acompanharam Janaína na festa de recepção aos calouros, já prestaram depoimento no DHPP. Representantes da administração superior da universidade serão os próximos a serem intimados.

  

Amigos e familiares fazem ato em memória de Janaína Bezerra, estudante morta na UFPI
Laura Parente / A10+

   

O delegado Barêtta afirmou ainda que pretende questionar a instituição sobre a segurança no campus, se existia autorização para a realização da festa e a duração do evento. Na sala de aula, onde o crime teria acontecido, os policiais encontraram manchas de sangue no colchão, na mesa e no chão. O material foi recolhido e encaminhado à perícia.

Amigos e familiares fazem ato em memória de Janaína Bezerra

Amigos, familiares e estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) realizaram na tarde desta segunda-feira (30) uma vigília no campus da instituição em memória da estudante de jornalismo, Janaína da Silva Bezerra. A jovem, de 22 anos, foi estuprada, morta e teve o pescoço quebrado após uma calourada que ocorreu nas dependências da instituição no último sábado (28).

O ato, que contou a participação de outras entidades da comunidade acadêmica, foi convocado pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos), curso do qual Janaína era estudante. Além das homenagens e pedidos de justiça, os alunos protestaram pela falta de segurança na UFPI.

Janaína Bezerra era a primeira pessoa da família a cursar o ensino superior. Muito estudiosa, a jovem adorava ler e queria ser escritora. Em entrevista à TV Antena 10, a mãe da jovem, Maria do Socorro, pediu justiça e citou que perdeu uma parte do seu coração com a precoce partida da estudante de jornalismo.

O que diz o suspeito?

Thiago Mayson passou por audiência de custódia na tarde deste domingo (29). Em depoimento à polícia, ele contou que já conhecia a vítima e teriam “ficado” em outras ocasiões. Ele relatou que estavam em uma “calourada” na UFPI e que por volta das 2h convidou a jovem para seguirem a um corredor e em seguida se dirigiram a uma das salas de aula onde praticaram sexo consensual e que após a prática sexual a vítima teria ficado desacordada por duas ocasiões, sendo a última por volta das 4h.  

Ele alegou que permaneceu ao lado do corpo da vítima durante toda a madrugada e solicitou socorro à segurança da Universidade por volta das 9h de sábado (28), que conduziu a vítima ao Hospital da Primavera, onde foi constatado o óbito. Segundo o IML, a causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação contundente, ou seja, houve uma contusão na coluna vertebral a nível cervical, o que causou lesão da medula espinhal e a morte.  

O delegado Barêtta, coordenador do DHPP, relatou ao A10+ que Janaína foi violentada em uma sala no prédio do Programa de Pós-Graduação em Matemática. Na sala foi encontrado um colchão ensanguentado. De acordo com a legista, a ação contundente pode ter sido causada por pancada, torcendo a coluna vertebral ou traumatizando, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às investigações do caso.

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