A pró-reitora de ensino de pós-graduação, Regilda Saraiva, relatou à TV Antena 10, nesta terça-feira (31), após reunião com estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que a instituição atenderá as reivindicações dos alunos que pediram mais segurança e ações de combate à violência dentro do campus. Sob gritos de "justiça", alunos realizaram um protesto e ocuparam a reitoria na manhã de hoje.
Regilda, que está substituindo o reitor em exercício, Viriato Campelo, destacou que as reivindicações dos alunos foram ouvidas e que medidas de curto e longo prazo vão ser tomadas. Ela também rebateu as falas dos alunos em relação às denúncias de assédio que aconteciam dentro da instituição. Alunos alegaram que a UFPI foi omissa em casos de assédios por parte de professores e alunos dentro da instituição.
"Eles trouxeram reivindicações que consideramos justas e necessárias, algumas tentaremos resolver a curto prazo, outras temos condições de resolver a médio prazo, mas nós precisávamos ter esse diálogo para o combate da violência. [Denúncia de assédios] Em relação, a outras gestões não tenho conhecimento, nessa gestão sempre que trouxeram [demandas] tomamos providências. Nós entendemos que a violência tem aumentado bastante e chegou até a universidade desta forma, nunca se pensou que na universidade ia ter um crime, mas nós enquanto instituição temos que tomar posição e arcar com as medidas para que isso nunca mais aconteça", explicou.
Questionada sobre a segurança do local, Saraiva disse que entre as medidas sugeridas pelos alunos está a integração de mulheres no quadro de equipes responsáveis pela segurança, mas voltou a afirmar que a calourada em que Janaína estava não foi comunicada para a instituição.
"Essa festa não tinha oficialmente uma comunicação que ia haver, talvez por isso não tinha segurança lá. Nos temos um efetivo de segurança que precisamos aumentar, a universidade é muito grande e precisa aumentar sim, isso é um custo que se deve ter mesmo com todos os cortes, porque a segurança é prioridade, fundamental. Uma sugestão dos alunos, que eu considerei muito boa, é incrementar o número de mulheres na segurança, temos muitas mulheres estudantes, que precisam ter esse acompanhamento. Providências estão sendo tomadas para viabilizar a melhoria das condições de segurança na universidade", completou.
Medo de voltar à sala de aula
Uma estudante identificada apenas como Geovana, do 1º período, relatou à TV Antena 10 que os pais dos alunos estão preocupados com a falta de segurança na UFPI. A jovem relatou ainda que sua mãe pediu para ela deixar a universidade com medo dela não voltar para casa, principalmente depois do caso que ocorreu com Janaína que foi para uma calourada e foi estuprada e morta dentro da instituição. Os alunos pedem segurança com urgência.
"Culparam a gente, calourada é um momento para gente se divertir, brincar, mas também a gente consegue um lucro extra para fazer um projeto novo, porque a verba disponibilizada pra gente é extremamente baixa. Alunos foram assediados antes e o que fizeram foi abafar e não liberaram câmeras. Minha mãe pediu para eu desistir do curso, antes de eu entrar ela disse que o maior sonho dela era ver uma filha dela entrando em uma federal, se formando. Hoje em dia ela prefere que eu não estude em um lugar em que eu possa não chegar em casa um dia, eu possa estar morta", desabafou.
UFPI abre sindicância para definir punição de mestrando
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou que formou uma comissão de sindicância para apurar as condutas de Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, suspeito de estuprar e matar a estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, de 22 anos, no último sábado (28), após uma calourada. Ele segue preso desde o dia do ocorrido.
O reitor Viriato Campelo relatou à TV Antena 10 que a sindicância irá apurar as atitudes do suspeito para além da questão criminal, independente dos resultados da investigação policial e do processo. Entre as sanções direcionadas a Thiago está o cancelamento da sua matrícula, mesmo que ele venha a ser inocentado. O prazo é de 30 dias.
A comissão se reunir para deliberar também sobre o fato do estudante estar bebendo dentro do campus, o que é proibido. A UFPI informou que Thiago Mayson tinha a chave da sala de estudo onde o estupro teria acontecido porque os alunos do mestrado, doutorado e iniciação científica de Matemática têm uma sala de estudo coletivo. A chave era compartilhada com outras 13 pessoas.
No dia do crime, um segurança da universidade flagrou Thiago com a blusa manchada de sangue e carregando a vítima desacordada em um corredor. Ao funcionário, o estudante relatou que a amiga tinha passado mal e estava procurando por socorro.
"Como pode o amigo de alguém estar passando mal e ele não chamar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)?", questionou o delegado Francisco Costa Baretta, diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), responsável pela investigação, em entrevista ao R7.
Os seguranças e as amigas, que acompanharam Janaína na festa de recepção aos calouros, já prestaram depoimento no DHPP. Representantes da administração superior da universidade serão os próximos a serem intimados.
O que diz o suspeito?
Thiago Mayson passou por audiência de custódia na tarde deste domingo (29). Em depoimento à polícia, ele contou que já conhecia a vítima e teriam “ficado” em outras ocasiões. Ele relatou que estavam em uma “calourada” na UFPI e que por volta das 2h convidou a jovem para seguirem a um corredor e em seguida se dirigiram a uma das salas de aula onde praticaram sexo consensual e que após a prática sexual a vítima teria ficado desacordada por duas ocasiões, sendo a última por volta das 4h.
Ele alegou que permaneceu ao lado do corpo da vítima durante toda a madrugada e solicitou socorro à segurança da Universidade por volta das 9h de sábado (28), que conduziu a vítima ao Hospital da Primavera, onde foi constatado o óbito. Segundo o IML, a causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação contundente, ou seja, houve uma contusão na coluna vertebral a nível cervical, o que causou lesão da medula espinhal e a morte.
O delegado Barêtta, coordenador do DHPP, relatou ao A10+ que Janaína foi violentada em uma sala no prédio do Programa de Pós-Graduação em Matemática. Na sala foi encontrado um colchão ensanguentado. De acordo com a legista, a ação contundente pode ter sido causada por pancada, torcendo a coluna vertebral ou traumatizando, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às investigações do caso.
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