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O Piauí pode estar prestes a entrar no mapa das grandes potências minerais do século XXI. A empresa canadense Origen Resources assinou uma carta de intenções para adquirir um projeto de terras raras no interior do estado, um passo que pode transformar a região em polo estratégico para a produção de insumos usados em tecnologias limpas, energia renovável e equipamentos eletrônicos de ponta.

Com 3.978 hectares distribuídos em dois blocos de concessões e direito de preferência sobre outras cinco áreas, o projeto coloca o Piauí no radar internacional da mineração de terras raras, um dos materiais mais valiosos do mundo moderno. As amostras já analisadas apontaram teores de até 1,61% de óxidos totais de terras raras, número considerado elevado para coletas de superfície e suficiente para confirmar o potencial mineral da área.
Esses elementos — como neodímio, lantânio e térbio — são cruciais para a fabricação de ímãs permanentes, baterias elétricas, turbinas eólicas e motores de carros elétricos, compondo a base de uma economia verde e tecnológica. O estudo preliminar indica ainda que o depósito pode seguir o modelo IACD (Ion Adsorption Clay Deposits), característico por abrigar terras raras pesadas em argilas, estrutura geológica típica da China e de grande valor estratégico.
Diferentemente de jazidas rochosas, os depósitos IACD permitem extração menos agressiva ao meio ambiente, fator que pode tornar o projeto um exemplo de mineração sustentável. A Origen terá 150 dias de exclusividade para realizar análises técnicas e jurídicas — o chamado due diligence. Caso o potencial seja confirmado, a empresa investirá US$ 1 milhão em exploração nos dois anos seguintes, além de pagar US$ 50 mil ao vendedor e emitir 2 milhões de ações.
O Piauí já desponta como uma das fronteiras minerais mais promissoras do Brasil, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB). Na última quinta-feira (6), a diretora-presidente do SGB, Sabrina Góis, reuniu-se em Brasília com o governador Rafael Fonteles para discutir parcerias voltadas à ampliação do mapeamento mineral do estado. Atualmente, apenas 27% do território brasileiro está detalhadamente mapeado, o que reforça a necessidade de investimentos em geociência e atração de capital estrangeiro.
Por que as terras raras são tão valiosas
As terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos usados em produtos de alta tecnologia, de smartphones a satélites. São consideradas estratégicas porque não há substitutos eficientes para muitas de suas aplicações — e cerca de 70% da produção mundial está concentrada na China. O avanço de novos produtores, como o Brasil, pode reduzir a dependência global e impulsionar acordos comerciais, inclusive a retirada do tarifaço americano sobre produtos brasileiros ligados à cadeia de transição energética.