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A Câmara Municipal de Teresina poderá revogar o Título de Mérito Legislativo concedido à ex-servidora comissionada Suelene da Cruz Pessoa, conhecida como Sol Pessoa, agora presa na Operação “Gabinete de Ouro”. A honraria, instituída em 15 de agosto de 2023 por decreto legislativo (Decreto Legislativo nº 333/2006), foi indicada pelo ex-vereador Roberval Queiroz, então aliado político do ex-prefeito Dr. Pessoa, e simbolizava a confiança que Sol Pessoa gozava na administração municipal.
Com o avanço das investigações e sua prisão por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de recursos, o vereador Petrus Evelyn (Progressistas) protocolou requerimento alegando que os fatos públicos recentes “maculam a honra e a idoneidade da homenageada” e que a distinção não se sustenta ante tais denúncias.
Enquanto essa tramitação legislativa se desenrola, Sol Pessoa prestou depoimento à polícia na condição de investigada. Em sua versão, ela afirmou que não comandou a remuneração de servidores terceirizados nem atuou no controle direto das contratações. Disse que recebia “pedidos” de gestores para dispor lotações, mas negou que tivesse ingerência nos pagamentos ou nas decisões finais.
O empresário Marcus Almeida de Moura, também preso na operação, prestou depoimento no qual afirmou que não tinha controle sobre terceiros empregados, disse não conhecer detalhes das remunerações e afirmou que suas interações eram limitadas ao cumprimento de solicitações feitas por Sol e pessoas ligadas à administração. Ele negou ter mencionado o nome do ex-prefeito Dr. Pessoa em seus relatos, recusando imputar a ele responsabilidade direta.
O delegado Ferdinando Martins, responsável pelo inquérito, afirmou em coletiva que parte dos investigados já manifestou intenção de cooperar, fornecendo informações para auxiliar a investigação. Ele ressaltou que o prazo atual é de prisão temporária, e que a autoridade policial vai avaliar nas próximas horas se pedirá prorrogação desse prazo ou conversão em prisão preventiva, dependendo da análise do material apreendido. Ele destacou que o objetivo é concluir as oitivas até o início da manhã seguinte, para depois decidir os próximos passos do processo.
Segundo o delegado, há indícios graves: relatório financeiro do COAF já mostra movimentações atípicas ligadas aos investigados. Ele citou que documentos apontam para operações de realocação de terceirizados, manipulação de pagamentos e uso de contas pessoais para depósitos que integrariam o esquema. Um dos casos mais ilustrativos é o de um motorista da Prefeitura que teria depositado R$ 150 mil em uma empreiteira ligada à construção da residência de Sol Pessoa, em única transação.
Para Ferdinando, essas informações preliminares devem ainda ser cotejadas com os aparelhos celulares, notas fiscais, contratos e outros elementos recolhidos. Ele frisou que muitos envolvidos utilizaram “interpostas pessoas” para mascarar a propriedade real dos valores, e que quem usou contas de terceiros será convocado para prestar esclarecimentos.
No campo legislativo, o requerimento de cassação da honraria ainda será analisado pelas comissões internas da Câmara, que avaliarão se os novos fatos são suficientes para desconstituir uma distinção que visava celebrar o mérito social e ético de cidadãos. Se aprovado, Sol Pessoa perderá formalmente o título, o que simbolicamente retirará da Câmara aquilo que era uma referência pública de honra. É um embate entre o simbolismo institucional e as bases reais da investigação criminal que agora a envolve.
Fonte: Portal A10+